domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ser Urbano

Vocês criam leis, fórmulas, máquinas que correm, voam, nadam e matam, estruturas imensas de barro, concreto e aço... mas ignoram a grande parte de vocês que cresce ao relento, nas lacunas do seu grande império de pedra. Vocês nomeiam o ódio, o amor, a felicidade, a tristeza... mas não dão a devida atenção ao proprio território emocional... a maioria de vocês mal o conhece. Vocês procuram por deuses em livros que esquecem terem sido escritos por si mesmos... e tentam provar uns aos outros que o deus que acharam na estante amarela é superior ao do livro da estante cinza. Vocês morrem e matam tentando provar essa última. Vocês dizem amar a natureza e tudo que dela provém... mas estão, cada vez mais, se afundando em metrópoles e tornando cada vez mais raro achar a beleza do intocado. Vocês mexem em tudo. Não conseguem olhar para algo novo sem pensar no que pode ser extraído, transformado e lucrado daquilo. Vocês assombram seus jovens com a falsa idéia de que eles tem o compromisso de reinar algum favo da colméia que vocês criaram... destroem seus sonhos, roubam sua inocência, capam sua individualidade e imaginação... Vocês são a dualidade do perfeito. Nascem de um início de parágrafo... vivem criando "porém" 's e morrem, carregando apenas seus "e se.." 's.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Trejeitos do Instrumento

De onde vem essa paz, que me envolve por inteiro, quando sinto suas curvas violão?

Todo dia te escuto, com aquele teu primeiro som que ressona no ouvido.
E já sei se te dou grave ou agudo, com aquele ar de quem tinha esquecido.
Me ensina a falar calado esses teus dizeres que vibram no ar.
Contigo grito sem voz, coisas que a alma queria falar.
Senta ao meu lado, me dá companhia nessa tarde que chove.
Vê meu estado, se altera, comove.
Completa minha frase, caleja meus dedos.
Me olha de canto, cala meus medos.
Puxa aquele tom que eu me atrevo a cantar.
Me dá compasso, me acompanha até a canção acabar.
Disfarça minha voz baixa, dá encaixe pro verso.
Imagino a batida da caixa, com os olhos fechados, imerso.
Quebra o som, se abafa aos poucos.
Deixa um sonho bom aos que sentem-se ocos.
Te ponho no canto e, enquanto lembro daquele nosso último solo...
Logo vejo que sinto sua falta quando te tiro do colo.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sobre a tristeza

Tristeza é o estado volátil de toda sua raiva, incompreensão e egoísmo. É quando tudo que pode dar errado em um dia acontece, causando uma falta de peso nos piores fantasmas da alma. Num calor repentino seu corpo transpira tudo que adormecia no canto do quarto da mente. Eles pairam sobre você, te observam com olhares que te constrangem, olhares fixos nos seus desorgulhos e te fazem acreditar que não existe copo meio cheio... mas apenas copos, que um dia esvaziarão completamente seu conteúdo e se quebrarão, sendo repostos por outros milhares iguaizinhos a ele. Quem é triste vê as coisas de cabeça pra baixo no espelho... pra que todos os seus erros sejam revelados...