quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ação/Drama E Um Fundo De Comédia

É engraçado pensar no jeito que eu sei e não sei lidar com ela. Me sinto um hipócrita. Ela vive elogiando meu bom senso e, modéstia a parte, em alguns pontos ela realmente não tem do que reclamar... mas uma hora ou outra eu falho, como qualquer mortal. E quando eu falho, eu capricho. Então, no ato do erro me vem o pensamento: "É brother... ela vai fazer aquilo". E como se a vida me brindasse com a ironia de acertar em cheio após um erro idiota... eu estou certo! E em resposta eu devolvo um sorriso amarelo que (inteligentemente) abro só no profundo interior da minha mente.
Não sei muito bem como começa, só sei que já estou no meio quando eu tenho a impressão de sentir um frio repentino e nuvens negras deixando o céu num breu lá fora. A tormenta se aproxima. Ela me dá 4 ou 5 eternos segundos de silêncio que é pra que eu ocupe minha mente de culpa, me castigue, me pergunte tanto o ponto exato onde errei que acabo sem saber de mais nada e me prenda numa cena constrangedora onde eu sou virado do avesso, de tão errado. Depois disso, acontece. As sombrancelhas se abaixam apertando os olhos carregados de um sentimento indefinido, que ameaçadoramente me fitam. E num movimento perfeito, ensaiado, ela joga a cabeça junto com o olhar pra direita se certificando por um canto de olho se eu ainda estou acompanhando (perplexo) o seu movimento fatal. Se apoia pra levantar, deixando o braço fácil pra eu tentar puxa-la de volta, eu tento, em vão. E é nessa hora que ela tem a certeza de que ela me tem completamente vulnerável, no ápice da lástima de um homem. Ela puxa seu braço de modo violento (sem força, violento) pelos meus dedos que sabem que poderiam conter o movimento brusco com um pouco de força, mas não ousariam. Ela abaixa a cabeça, põe os lábios pra dentro, fecha as mãos pela metade e me dá aquelas costas cheias que, no caminhar, criam uma bolha de vácuo que suga todos os objetos do quarto junto com ela porta afora, me deixando nú, indefeso, atônito.
Eu nunca achei que sons fossem capazes de transmitir sarcasmo... até ouvir "A Bufada"."A Bufada" é um misto de desdém com inconformidade. Algo que te deixa constrangido e revoltado. Depois de me enfiar no buraco que cavou pra mim, ela solta "a bufada" pra ecoar no corredor e dilacerar qualquer dúvida que ainda me reste do tamanho do seu desapontamento com o meu ato infeliz (que a essa altura, não me lembro mais). Ela gosta de muitas coisas e, entre elas, está uma que sempre me intrigou: a cereja. Sempre achei que houvesse algum simbolismo, talvez pela minha mente doentia achar que a sua tradução pro inglês "cherry" tenha uma sonoridade sexy e que remeta ao pecado. Mas despois de testemunhar algumas aparições "d'A Bufada" acho que a cereja é uma menção ao seu imenso prazer em deixar um detalhe estético característico da sua natureza em tudo que ela faz. "A cereja do bolo". Eu vejo "A Bufada" como o golpe de misericórdia, o ato final do seu espetáculo escrito e dirigido por si mesma, criado para o fim de me fazer sentir. E ela consegue, com pleno êxito.
Somente com esse peso no peito eu posso me olhar de verdade. Ela foi covarde. Me despiu de propósito. Me forçou à auto-crítica. Me dividido somente em dois fazeres... refletir e corrigir. Mas essa explosão é tão efetiva quanto de baixo calão. Me pego numa vontade louca de dar mais carinho que antes. Numa cisma antiga comigo mesmo de que eu preciso aprender a me expressar na fala. De que eu preciso dizer mais o que sinto e menos o que penso. O amor não combina com educação. Dizer algo com o coração é dizer sem medo de parecer rude ou antecipar uma briga. É transportar pra fora aquelas coisas que geram um sorriso, um embrulho no estômago ou um choro. Tudo que eu quero nesse ponto é um abraço e um perdão. Mas, pasme, eu preciso adiar essa vontade. Afinal, só se passaram 5 minutos desde que ela deixou o quarto.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Trincheira Pessoal

Eu sou soldado de uma terra sem som e sem cor.
Meu grito de guerra ruge de um silêncio incolor.
Me armo de um pensamento a mais sobre o não visto.
Pulsando como arterial e venoso tem o amor e o ódio, num cálice misto.
Não vejo diferença de gênero, credo, classe ou cor em meus inimigos.
Só por juízo, dou o mesmo tratamento àqueles que chamo de amigos.
Levando a bandeira imponente do meu exército de um louco só.
Desbravei territórios onde tem neguinho que entra e num sobra nem o pó.
Já to ciente do caminho sangrento e gelado,
Que terei de atravessar pra ver de perto o que me foi reservado.
Me pediram pra ficar e olhar, desobedeci pra variar.
Desde muleque sou teimoso, não adianta, pergunta aos que ousaram duvidar.
Eu poderia morrer de frio, de terno e gravata no ar condicionado de um cubículo,
Mas é só olhar pela janela pra brotar uma idéia nova que assimile o comodismo ao ridículo.
Eu sou o guerreiro inquieto no universo de um cara calado.
A luta que eu venço todo dia é pra que ele se mantenha focado.

terça-feira, 5 de abril de 2011

O Lado Opaco Do Espelho.

Tudo que toma vida em meus rascunhos
Surge do ódio contido que enxarca meus punhos.
O olhar cansado das 5 da matina
Que revela o ego surrado pela prisão da rotina.
Mostra o lado despresível evidente de quem não consegue se ver errado
O homem que se prendeu calado, simplesmente por não ter argumentado ou questionado.
E com os valores formados, o seu discurso é tão vazio quanto seus erros passados:
Pro homem que paga o salário: "Sim senhor, obrigado, com licença, por favor..."
Pra mulher que divide a vida: "Cala a boca, sai daqui, você não entenderia meu amor..."
E a herança que se deixa é a atitude repassada.
A palavra proferida, doída, falada.
O garoto que cresce a cada dia, procura razão pra viver...
Educado desde menino pela falsa ilusão de escolher o que ser...
Escolheu os lápis de cor, o violão, a arte e o amor.
A vida cospe de volta só angústia, desilusão, ingratidão e dor.
Mudou pro dinheiro... a coisa mudou de figura.
Com a certeza de convenceu mais um otário, a vida se promete segura.
Se eu consigo me ver no topo do mundo, acenando com felicidade a esmo e sem cota.
É porque acredito, e não porque quero ver neguinho me acenando de volta.
Me fortaleço sozinho com fé total no que acredito.
Me entrego de corpo e alma pra minha prece de menino esquisito.
Se digo que vou sair de viagem, de um lugar onde ninguém sai.
Sempre tem dois lados: há quem despreza e duvida e quem se anima e se atrai.
Se me deseja o melhor, tem minha lealdade e o lugar reservado no busão.
Se me deseja o pior, te deixo minha compaixão, mas infelizmente não posso te prometer solidão.
Se brotasse um como você por segundo eu teria estoque pra um mês.
Meu lamento real é de que essa fábrica, que faz a idéia que você compra, tenha tanto freguês.

terça-feira, 22 de março de 2011

Acalma essa tempestade dentro de si.
Usa qualquer argumento que sopre um vento contra a tormenta insana.
Toma qualquer providência... se fecha, se afoga dentro de ti.
Mas se precisar de mim, por favor, não se aguenta...
Chama.

sábado, 19 de março de 2011

Presença

Não me importo de estar aqui.
Não quero ser o bem maior.
Só quero ser a gota de conforto.
A quase escassa idéia de que tudo está um caos, mas não pra sempre.
Que o seu passado nunca esteve nas suas ou em quaisquer outras mãos, mas que cada borrão que enxarca o quadro interminado do seu futuro vem da tinta do seu pincel.
Se precisar de abrigo a casa é sua. E se precisar escolher... fuja da indiferença, e não da dor.
O doloroso arde e cicatriza, o indiferente consome e leva, se acostuma, se aloja.
O amor é movido pela mesma força que o ódio.
O amor precisa do caos. Amor que não dói, que não afeta, que não muda... não existe.
Me atormenta a idéia de não ter o efeito que você precise. Mas me conforta a idéia de que eu tive a opção de não sofrer qualquer dor que não fosse minha, mas estou aqui. E não me importo.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Folião do Ano.

O dia amanhece cinza, não temos planos pro jantar e as contas não estão em dia... mas isso pode esperar, porque hoje eu comprei um passaporte da alegria.
Relacionamentos se acabaram, memórias estão frescas e ninguém nunca mais deu trela... mas hoje minha escola desfila e eu terei olhos só pra ela.
As famílias estão mudando, os amigos estão sumindo e, em silêncio, entristeço... mas os bares estão cheios, bebo um pouco e logo esqueço.
Cidadão pede esmola, criança pede sonho e deputado pede aumento... Mas hoje eu vou atrás do trio elétrico e canto tão alto que arranco horas de um momento.

Finjo que estou feliz só por um dia ou três... eu mereço, afinal.
Pulo, danço e festejo... ora, é Carnaval!
Me distraio do que me machuca até a folia resolver tudo no final.
Acho que é daí que vem a impressão de que a quarta de cinzas é tão próxima do Natal.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Rotina

Abre os olhos... Já é hora.
Se banha, se arruma, se apressa... Agora!
Corre pra fila do rebanho mameluco, cafuzo... maluco, confuso.
Se expreme no meio do sono, do stress, do abuso.
Põe o mantra pra tocar no ouvido e faz uma reza.
Se sente deslocado ao pensar coisas que ninguém mais preza.
Observa a impaciência da manada quando a carroça se move mais lenta.
Como quem acha que o tempo se move em função do salário que aumenta.
Seja a ovelha negra, a cabeça solitária do gado.
Que imagina como tudo seria se seu real habitat não o tivesse sido negado.
Cumpre teu papel (e quanto papel). Deita a cabeça no travesseiro.
Se conforta em lembrar que as coisas boas exitem numa frase, num poema ou num cheiro (e que cheiro).

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ser Urbano

Vocês criam leis, fórmulas, máquinas que correm, voam, nadam e matam, estruturas imensas de barro, concreto e aço... mas ignoram a grande parte de vocês que cresce ao relento, nas lacunas do seu grande império de pedra. Vocês nomeiam o ódio, o amor, a felicidade, a tristeza... mas não dão a devida atenção ao proprio território emocional... a maioria de vocês mal o conhece. Vocês procuram por deuses em livros que esquecem terem sido escritos por si mesmos... e tentam provar uns aos outros que o deus que acharam na estante amarela é superior ao do livro da estante cinza. Vocês morrem e matam tentando provar essa última. Vocês dizem amar a natureza e tudo que dela provém... mas estão, cada vez mais, se afundando em metrópoles e tornando cada vez mais raro achar a beleza do intocado. Vocês mexem em tudo. Não conseguem olhar para algo novo sem pensar no que pode ser extraído, transformado e lucrado daquilo. Vocês assombram seus jovens com a falsa idéia de que eles tem o compromisso de reinar algum favo da colméia que vocês criaram... destroem seus sonhos, roubam sua inocência, capam sua individualidade e imaginação... Vocês são a dualidade do perfeito. Nascem de um início de parágrafo... vivem criando "porém" 's e morrem, carregando apenas seus "e se.." 's.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Trejeitos do Instrumento

De onde vem essa paz, que me envolve por inteiro, quando sinto suas curvas violão?

Todo dia te escuto, com aquele teu primeiro som que ressona no ouvido.
E já sei se te dou grave ou agudo, com aquele ar de quem tinha esquecido.
Me ensina a falar calado esses teus dizeres que vibram no ar.
Contigo grito sem voz, coisas que a alma queria falar.
Senta ao meu lado, me dá companhia nessa tarde que chove.
Vê meu estado, se altera, comove.
Completa minha frase, caleja meus dedos.
Me olha de canto, cala meus medos.
Puxa aquele tom que eu me atrevo a cantar.
Me dá compasso, me acompanha até a canção acabar.
Disfarça minha voz baixa, dá encaixe pro verso.
Imagino a batida da caixa, com os olhos fechados, imerso.
Quebra o som, se abafa aos poucos.
Deixa um sonho bom aos que sentem-se ocos.
Te ponho no canto e, enquanto lembro daquele nosso último solo...
Logo vejo que sinto sua falta quando te tiro do colo.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sobre a tristeza

Tristeza é o estado volátil de toda sua raiva, incompreensão e egoísmo. É quando tudo que pode dar errado em um dia acontece, causando uma falta de peso nos piores fantasmas da alma. Num calor repentino seu corpo transpira tudo que adormecia no canto do quarto da mente. Eles pairam sobre você, te observam com olhares que te constrangem, olhares fixos nos seus desorgulhos e te fazem acreditar que não existe copo meio cheio... mas apenas copos, que um dia esvaziarão completamente seu conteúdo e se quebrarão, sendo repostos por outros milhares iguaizinhos a ele. Quem é triste vê as coisas de cabeça pra baixo no espelho... pra que todos os seus erros sejam revelados...